CONTRIBUIÇÃO DOS LÍDERES RELIGIOSOS

Introdução ao estudo da Doutrina Espirita

 

Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à Doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia.

Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista.

Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.

Como especialidade, O livro dos espíritos contem a Doutrina Espirita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão por que traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista.

II

 

Há outra palavra acerca da qual importa igualmente que todos se entendam, por constituir um dos fechos de abóbada de toda doutrina moral e ser objeto de inúmeras controvérsias, à mingua de uma acepção bem determinada. é a palavra alma. A divergência de opiniões sobre a natureza da alma provém da aplicação particular que cada um dá a esse termo. Uma língua perfeita, em que cada ideia fosse expressa por um termo próprio, evitaria muitas discussões. Com uma palavra para cada coisa, todos se entenderiam. Segundo uns, a alma é o princípio da vida material orgânica. Não tem existência própria e se aniquila com a vida: e o materialismo puro. Neste sentido e por comparação, diz-se de um instrumento rachado, que nenhum som mais emite, não tem alma. De conformidade com essa opinião, a alma seria efeito e não causa.

Pensam outros que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma certa porção. Segundo esses, não haveria em todo o Universo senão uma só alma a distribuir centelhas pelos diversos seres inteligentes durante a vida destes, voltando cada centelha, mortos os seres, à fonte comum, a se confundir com o todo, como os regatos e os rios voltam ao mar, donde saíram. Essa opinião difere da precedente em que, nesta hipótese, não há em nós somente matéria,  subsistindo  alguma  coisa  após  a  morte.  Mas  é  quase  como  se nada subsistisse, porquanto, destituídos de individualidade, não mais teríamos consciência de nós mesmos. Dentro desta opinião, a alma universal seria Deus, e cada ser um fragmento da divindade. Simples variante do panteísmo. Segundo outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade após a morte. Esta acepção é, sem contradita, a mais geral, porque, debaixo de um nome ou de outro, a ideia desse ser que sobrevive ao corpo se encontra, no estado de crença instintiva, não derivada de ensino, entre todos os povos, qualquer que seja o grau de civilização de cada um. Essa doutrina, segundo a qual a alma é causa e não efeito, e a dos espiritualistas.

Sem discutir o mérito de tais opiniões e considerando apenas o lado linguístico da questão, diremos que estas três aplicações do termo alma correspondem a três ideias distintas, que demandariam, para serem expressas, três vocábulos diferentes. Aquela palavra tem, pois, tríplice acepção e cada um, do seu ponto de vista, pode com razão defini-la como o faz. O mal está em a língua dispor somente de uma palavra para exprimir três ideias. A fim de evitar todo equívoco, seria necessário restringir-se a acepção do termo alma a uma daquelas ideias. A escolha e indiferente; o que se faz mister é o entendimento entre todos, reduzindo-se o problema a uma simples questão de convenção. Julgamos mais lógico tomá-lo na sua acepção vulgar e por isso chamamos ALMA ao ser imaterial e individual que em nós reside e sobrevive ao corpo. Mesmo quando esse ser não existisse, não passasse de produto da imaginação, ainda assim seria preciso um termo para designá-lo. Na ausência de um vocábulo especial para tradução de cada uma das duas outras ideias a que corresponde a palavra alma, denominamos:

Princípio vital o princípio da vida material e orgânica, qualquer que seja a fonte

donde promane, princípio esse comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. Pois que pode haver vida com exclusão da faculdade de pensar, o principio vital é coisa distinta e independente. A palavra vitalidade não daria a mesma ideia. Para uns o princípio vital é uma propriedade da matéria, um efeito que se produz achando-se a matéria em dadas circunstancias. Segundo outros, e esta é a ideia mais comum, ele reside em um fluido especial, universalmente espalhado e do qual cada ser absorve e assimila uma parcela durante a vida, tal como os corpos inertes absorvem a luz. Esse seria então o fluido vital que, na opinião de alguns, em nada difere do fluido elétrico animalizado, ao qual também se dão os nomes de fluido magnético, fluido nervoso etc.

Seja como for, um fato há que ninguém ousaria contestar, pois que resulta da observação: é que os seres orgânicos tem em si uma força íntima que determina o fenômeno da vida, enquanto essa forca existe; que a vida material é comum a todos os seres orgânicos e independe da inteligência e do pensamento; que a inteligência e o pensamento são faculdades próprias de certas espécies orgânicas; finalmente, que entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento há uma dotada também de um senso moral especial, que lhe dá incontestável superioridade sobre as outras: a espécie humana.

Concebe-se que, com uma acepção múltipla, o termo alma não exclui o materialismo, nem o panteísmo. O próprio espiritualismo pode entender a alma de acordo com uma ou outra das duas primeiras definições, sem prejuízo do ser imaterial distinto, a que então dará um nome qualquer.

 

Assim, aquela palavra não representa uma opinião: e um Proteu2, que cada um ajeita a seu bel-prazer. Daí tantas disputas intermináveis. Evitar-se-ia igualmente a confusão, mesmo usando-se do termo alma nos três casos, desde que se lhe acrescentasse um qualificativo especificando o ponto de vista em que se está colocado, ou a aplicação que se faz da palavra. Esta teria, então, um caráter genérico, designando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, o da inteligência e o do senso moral, que se distinguiriam mediante um atributo, como os gases, por exemplo, que se distinguem aditando-se ao termo genérico as palavras hidrogênio, oxigênio ou azoto. Poder-se-ia, assim, dizer, e talvez fosse o melhor, a alma vital — indicando o princípio da vida material; a alma intelectual — o princípio da inteligência, e a alma espírita — o da nossa individualidade após a morte. Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos entendidos. De conformidade com essa maneira de falar, a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual pertenceria aos animais e aos homens; e a alma espírita somente ao homem.

 

Julgamos dever insistir nestas explicações pela razão de que a Doutrina Espirita repousa naturalmente sobre a existência, em nós, de um ser independente da matéria e que sobrevive ao corpo. A palavra alma, tendo que aparecer com frequência no curso desta obra, cumpria fixássemos bem o sentido que lhe atribuímos, a fim de evitarmos qualquer engano.

Passemos agora ao objeto principal desta instrução preliminar.

III

 

Como tudo que constitui novidade, a Doutrina Espírita conta adeptos e contraditores. Vamos tentar responder a algumas das objeções destes últimos, examinando o valor dos motivos em que se apoiam sem alimentarmos, todavia, a pretensão de convencer a todos, pois muitos há que creem ter sido a luz feita exclusivamente para eles. Dirigimo-nos aos de boa-fé, aos que não trazem ideias preconcebidas ou decididamente firmadas contra tudo e todos, aos que sinceramente desejam instruir-se e lhes demonstraremos que a maior parte das objeções opostas à doutrina promanam de incompleta observação dos fatos e de juízo leviano e precipitadamente formado.

Lembremos, antes de tudo, em poucas palavras, a série progressiva dos fenômenos que deram origem a esta Doutrina.

O primeiro fato observado foi o da movimentação de objetos diversos.

Designaram-no vulgarmente pelo nome de mesas girantes ou dança das mesas. Este fenômeno, que parece ter sido notado primeiramente na América, ou, melhor, que se repetiu nesse país, porquanto a História prova que ele remonta à mais alta antiguidade, se produziu rodeado de circunstancias estranhas, tais como ruídos insólitos, pancadas sem nenhuma causa ostensiva. De lá, propagou-se rapidamente pela Europa e pelas outras partes do mundo. A princípio quase que só encontrou incredulidade, porém, ao cabo de pouco tempo, a multiplicidade das experiencias não mais permitiu lhe pusessem em dúvida a realidade.

 

Se tal fenômeno se houvesse limitado ao movimento de objetos materiais, poderia explicar-se por uma causa puramente física. Estamos longe de conhecer todos os agentes ocultos da Natureza, ou todas as propriedades dos que conhecemos: a eletricidade multiplica diariamente os recursos que proporciona ao homem e parece destinada a iluminar a Ciência com uma nova luz. Nada de impossível haveria, portanto, em que a eletricidade, modificada por certas circunstancias, ou qualquer outro agente desconhecido, fosse a causa dos movimentos observados. O fato de que a reunião de muitas pessoas aumenta a potencialidade da ação parecia vir em apoio dessa teoria, visto poder-se considerar o conjunto dos assistentes como uma pilha múltipla, com o seu potencial na razão direta do número dos elementos.

 

O movimento circular nada apresentava de extraordinário: está na Natureza. Todos os astros se movem em curvas elipsoides; poderíamos, pois, ter ali, em ponto menor, um reflexo do movimento geral do Universo, ou melhor, uma causa, até então desconhecida, produzindo acidentalmente, com pequenos objetos em dadas condições, uma corrente análoga à que impele os mundos.

O movimento, no entanto, nem sempre era circular; muitas vezes era brusco e desordenado, sendo o objeto violentamente sacudido, derribado, levado numa direção qualquer e, contrariamente a todas as leis da estática, levantado e mantido em suspensão. Ainda aqui nada havia que se não pudesse explicar pela ação de um agente físico invisível. Não vemos a eletricidade deitar por terra edifícios, desarraigar árvores, atirar longe os mais pesados corpos, atraí-los ou repeli-los?

Os ruídos insólitos, as pancadas, ainda que não fossem um dos efeitos ordinários da dilatação da madeira, ou de qualquer outra causa acidental, podiam muito bem ser produzidos pela acumulação de um fluido oculto: a eletricidade não produz formidáveis ruídos?

Até aí, como se vê, tudo pode caber no domínio dos fatos puramente físicos e fisiológicos. Sem sair desse âmbito de ideias, já ali havia, no entanto, matéria para estudos sérios e dignos de prender a atenção dos sábios. Por que assim não aconteceu? E penoso dizê-lo, mas o fato deriva de causas que provam, entre mil outros semelhantes, a leviandade do espirito humano. A vulgaridade do objeto principal que serviu de base às primeiras experiências não foi alheia à indiferença dos sábios. Que influência não tem tido muitas vezes uma palavra sobre as coisas mais graves!

Sem atenderem a que o movimento podia ser impresso a um objeto qualquer, a ideia das mesas prevaleceu, sem dúvida, por ser o objeto mais cômodo e porque, à roda de uma mesa, muito mais naturalmente do que em torno de qualquer outro móvel, se sentam diversas pessoas. Ora, os homens superiores são com frequência tão pueris que não há como ter por impossível que certos espíritos de escol hajam considerado deprimente ocuparem-se com o que se convencionara chamar a dança das mesas. É mesmo provável que se o fenômeno observado por Galvani o fora por homens vulgares e ficasse caracterizado por um nome burlesco, ainda estaria relegado a fazer companhia à varinha mágica. Qual, com efeito, o sábio que não houvera julgado uma indignidade ocupar-se com a dança das rãs?

 

Alguns, entretanto, muito modestos para convirem em que bem poderia dar- se não lhes ter ainda a Natureza dito a última palavra, quiseram ver, para tranquilidade de suas consciências. Mas aconteceu que o fenômeno nem sempre lhes correspondeu à expectativa e, do fato de não se haver produzido constantemente conforme a vontade deles e segundo a maneira de se comportarem na experimentação, concluíram pela negativa. Malgrado, porém, o que decretaram, as mesas — pois que há mesas — continuam a girar e podemos dizer com Galileu: todavia, elas se movem! Acrescentaremos que os fatos se multiplicaram de tal modo que hoje são aceitos sem contestação, não mais se cogitando senão de lhes achar uma explicação racional.

Contra a realidade do fenômeno, poder-se-ia induzir alguma coisa da circunstância de ele não se produzir de modo sempre idêntico, conforme a vontade e as exigências do observador? Os fenômenos de eletricidade e de química não estão subordinados a certas condições? Será lícito negá-los, porque não se produzem fora dessas condições? Que há, pois, de surpreendente em que o fenômeno do movimento dos objetos pelo fluido humano também se ache sujeito a determinadas condições e deixe de se produzir quando o observador, colocando-se no seu ponto de vista, pretende fazê-lo seguir a marcha que caprichosamente lhe imponha, ou queira sujeitá-lo às leis dos fenômenos conhecidos, sem considerar que para fatos novos pode e deve haver novas leis? Ora, para se conhecerem essas leis, preciso é que se estudem as circunstâncias em que os fatos se produzem e esse estudo não pode deixar de ser fruto de observação perseverante, atenta e às vezes muito longa. Objetam, porém, algumas pessoas: há frequentemente fraudes manifestas.

Perguntar-lhes-emos, em primeiro lugar, se estão bem certas de que haja fraudes e se não tomaram por fraude efeitos que não podiam explicar, mais ou menos como o camponês que tomava por destro escamoteador um sábio professor de Física a fazer experiencias. Admitindo-se mesmo que tal coisa tenha podido verificar-se algumas vezes, constituiria isso razão para negar-se o fato? Dever-se-ia negar a Física, porque há prestidigitadores que se exornam com o título de físicos? Cumpre, ademais, se leve em conta o caráter das pessoas e o interesse que possam ter em iludir.

Seria tudo, então, mero gracejo? Admite-se que uma pessoa se divirta por algum tempo, mas um gracejo prolongado indefinidamente se tornaria tão fastidioso para o mistificador, como para o mistificado. Acresce que, numa mistificação que se propaga de um extremo a outro do mundo e por entre as mais austeras, veneráveis e esclarecidas personalidades, alguma coisa há, com certeza, tão extraordinária, pelo menos, quanto o próprio fenômeno.

 

                          IV

 

Se os fenômenos, com que nos estamos ocupando, houvessem ficado restritos ao movimento dos objetos, teriam permanecido, como dissemos, no domínio das ciências físicas. Assim, entretanto, não sucedeu: estava-lhes reservado colocar-nos na pista de fatos de ordem singular. Acreditaram haver descoberto, não sabemos pela iniciativa de quem, que a impulsão dada aos objetos não era apenas o resultado de uma forca mecânica cega; que havia nesse movimento a intervenção de uma causa inteligente.

 

Uma vez aberto, esse caminho conduziu a um campo totalmente novo de observações. De sobre muitos mistérios se erguia o véu. Haverá, com efeito, no caso, uma potência inteligente? Tal a questão. Se essa potência existe, qual é ela, qual a sua natureza, a sua origem? Encontra-se acima da Humanidade? Eis outras questões que decorrem da anterior.

 

As primeiras manifestações inteligentes se produziram por meio de mesas que se levantavam e, com um dos pês, davam certo número de pancadas, respondendo desse modo — sim ou não —, conforme fora convencionado, a uma pergunta feita. Até aí nada de convincente havia para os céticos, porquanto bem podiam crer que tudo fosse obra do acaso. Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas com o auxílio das letras do alfabeto: dando o móvel um número de pancadas correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava-se a formar palavras e frases que respondiam às questões propostas. A precisão das respostas e a correlação que denotavam com as perguntas causaram espanto. O ser misterioso que assim respondia, interrogado sobre a sua natureza, declarou que era Espírito ou Gênio, declinou um nome e prestou diversas informações a seu respeito. Há aqui uma circunstância muito importante, que se deve assinalar. É que ninguém imaginou os Espíritos como meio de explicar o fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. Muitas vezes, tratando-se das ciências exatas, formulam-se hipóteses para dar-se uma base ao raciocínio. Não é aqui o caso.

Tal meio de correspondência era, porém, demorado e incomodo. O Espirito (e isto constitui nova circunstancia digna de nota) indicou outro.

Foi um desses seres invisíveis quem aconselhou a adaptação de um lápis a uma cesta ou a outro objeto. Colocada em cima de uma folha de papel, a cesta é posta em movimento pela mesma potência oculta que move as mesas; mas, em vez de um simples movimento regular, o lápis traça por si mesmo caracteres formando palavras, frases, dissertações de muitas paginas sobre as mais altas questões de filosofia, de moral, de metafísica, de psicologia etc., e com tanta rapidez quanta se se escrevesse com a mão.

O conselho foi dado simultaneamente na América, na França e em diversos outros países. Eis em que termos o deram em Paris, a 10 de junho de 1853, a um dos mais fervorosos adeptos da Doutrina e que, havia muitos anos, desde 1849, se ocupava com a evocação dos Espíritos: “Vai buscar, no aposento ao lado, a cestinha; amarra-lhe um lápis; coloca-a sobre o papel; põe-lhe os teus dedos sobre a borda.” Alguns instantes após, a cesta entrou a mover-se e o lápis escreveu, muito legível, esta frase: “Proíbo expressamente que transmitas a quem quer que seja o que acabo de dizer. Da primeira vez que escrever, escreverei melhor.”

O objeto a que se adapta o lápis, não passando de mero instrumento, completamente indiferentes são a natureza e a forma que tenha. Daí o haver-se procurado dar-lhe a disposição mais cômoda. Assim é que muita gente se serve de uma prancheta pequena.

A cesta ou a prancheta só podem ser postas em movimento debaixo da influência de certas pessoas, dotadas, para isso, de um poder especial, as quais se designam pelo nome de médiuns, isto é — meios ou intermediários entre os Espíritos e os homens. As condições que dão esse poder resultam de causas ao mesmo tempo físicas e morais, ainda imperfeitamente conhecidas, porquanto há médiuns de todas

 

as idades, de ambos os sexos e em todos os graus de desenvolvimento intelectual. É, todavia, uma faculdade que se desenvolve pelo exercício.

 

 

                        V

 

Reconheceu-se mais tarde que a cesta e a prancheta não eram, realmente, mais do que um apêndice da mão; e o médium, tomando diretamente do lápis, se pôs a escrever por um impulso involuntário e quase febril. Dessa maneira, as comunicações se tornaram mais rápidas, mais fáceis e mais completas. Hoje é esse o meio geralmente empregado e com tanto mais razão quanto o número das pessoas dotadas dessa aptidão é muito considerável e cresce todos os dias. Finalmente, a experiencia deu a conhecer muitas outras variedades da faculdade mediadora, vindo- se a saber que as comunicações podiam igualmente ser transmitidas pela palavra, pela audição, pela visão, pelo tato etc., e até pela escrita direta dos Espíritos, isto é, sem o concurso da mão do médium, nem do lápis.

Obtido o fato, restava comprovar um ponto essencial — o papel do médium nas respostas e a parte que, mecânica e moralmente, pode ter nelas.

Duas circunstancias capitais, que não escapariam a um observador atento, tornam possível resolver-se a questão. A primeira consiste no modo por que a cesta se move sob a influência do médium, apenas lhe impondo este os dedos sobre os bordos. O exame do fato demonstra a impossibilidade de o médium imprimir uma direção qualquer ao movimento daquele objeto. Essa impossibilidade se patenteia, sobretudo, quando duas ou três pessoas colocam juntamente as mãos sobre a cesta. Fora preciso entre elas uma concordância verdadeiramente fenomenal de movimentos. Fora preciso, demais, a concordância dos pensamentos, para que pudessem estar de acordo quanto à resposta a dar à questão formulada. Outro fato, não menos singular, ainda vem aumentar a dificuldade. É a mudança radical da caligrafia, conforme o Espirito que se manifesta, reproduzindo-se a de um determinado Espírito todas as vezes que ele volta a escrever. Fora necessário, pois, que o médium se houvesse exercitado em dar à sua própria caligrafia vinte formas diferentes e, principalmente, que pudesse lembrar-se da que corresponde a tal ou tal Espirito. A segunda circunstância resulta da natureza mesma das respostas que, as mais das vezes, especialmente quando se ventilam questões abstratas e científicas, estão notoriamente fora do campo dos conhecimentos e, amiúde, do alcance intelectual do médium, que, além disso, como de ordinário sucede, não  tem consciência do que escreve debaixo da sua influência; que, frequentemente, não entende ou não compreende a questão proposta, pois que esta o pode ser num idioma que ele desconheça, ou mesmo mentalmente, podendo a resposta ser dada nesse idioma. Enfim, acontece muito escrever a cesta espontaneamente, sem que se haja feito pergunta alguma, sobre um assunto qualquer, inteiramente inesperado.

Em certos casos, as respostas revelam tal cunho de sabedoria, de profundeza e de oportunidade; exprimem pensamentos tão elevados, tão sublimes, que não podem emanar senão de uma Inteligência superior, impregnada da mais pura moralidade. Doutras vezes, são tão levianas, tão frívolas, tão triviais, que a razão recusa admitir derivem da mesma fonte. Tal diversidade de linguagem não se pode explicar senão pela diversidade das Inteligências que se manifestam. E essas Inteligências estão na Humanidade ou fora da Humanidade? Este o ponto a esclarecer-se e cuja explicação se encontrara completa nesta obra (O Livro dos Espíritos), como a deram os próprios Espíritos.

 

Eis, pois, efeitos patentes, que se produzem fora do círculo habitual das nossas observações; que não ocorrem misteriosamente, mas, ao contrário, à luz meridiana, que toda gente pode ver e comprovar; que não constituem privilégio de um único indivíduo e que milhares de pessoas repetem todos os dias. Esses efeitos têm necessariamente uma causa e, do momento que detonam a ação de uma inteligência e de uma vontade, saem do domínio puramente físico.

Muitas teorias foram engendradas a este respeito. Examiná-las-emos dentro em pouco e veremos se são capazes de oferecer a explicação de todos os fatos que se observam. Admitamos, enquanto não chegamos até lá, a existência de seres distintos dos humanos, pois que esta é a explicação ministrada pelas Inteligências que se manifestam, e vejamos o que eles nos dizem.

 

                     VI

 

Conforme notamos acima, os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos ou gênios, declarando, alguns, pelo menos, terem pertencido a homens que viveram na Terra. Eles compõem o mundo espiritual, como nós constituímos o mundo corporal durante a vida terrena.

Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da Doutrina que nos transmitiram, a fim de mais facilmente respondermos a certas objeções:

  • Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom;
  • criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais;
  • os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espirita, isto é, dos Espíritos;
  • o mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo;
  • o mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espirita;
  • os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade;
  • entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras;
  • a alma é um Espirito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório;
  • há no homem três coisas: 1.º, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2.º, a alma ou ser imaterial, Espirito encarnado no corpo; 3.º, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espirito;

 

  • tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos;
  • o laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espirito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do involucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém, que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições;
  • o Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber- se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato;
  • os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconsequências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos;
  • os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espirita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral;
  • deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espirito errante3;
  • tendo o Espírito que passar por muitas encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em outros mundos;
  • a encarnação dos Espíritos se dá sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Espírito possa encarnar no corpo de um animal;
  • as diferentes existências corpóreas do Espirito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição;
  • as qualidades da alma são as do Espirito que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espirito, o homem perverso a de um Espirito impuro;
  • a alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo;
  • na sua volta ao mundo dos Espíritos, encontra a alma todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de todo bem e de todo mal que fez;
  • o Espirito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal;
  • os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo;
  • os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo. É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós;
  • os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potencias da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo;
  • as relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá- las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo ver-nos sucumbir e assemelhar-nos a eles;
  • as comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia. Cabe ao nosso juízo discernir as boas das mas inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos;
  • os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação;
  • podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes seja permitido fazer-nos;
  • os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro;
  • distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando- lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde reine íntima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem;
  • a moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores ações;
  • ensinam-nos que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para experimentá- lo; que o forte e o poderoso devem amparo e proteção ao fraco, porquanto transgrede a Lei de Deus aquele que abusa da forca e do poder para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas; que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra;
  • mas ensinam também não haver faltas irremissíveis que a expiação não possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conforme os seus desejos e esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino final.

Este o resumo da Doutrina Espirita, como resulta dos ensinamentos dados pelos Espíritos superiores. [...]

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IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA

1.     Origem


A Igreja Católica tem sua origem e estruturação na pessoa de Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado, no fundamento dos Apóstolos e na sucessão apostólica, a partir de  Jesus Cristo até os dias atuais.


Jesus Cristo é a figura central do Cristianismo, porque, por vontade de Deus Pai, ele encarnou-se (veio à Terra) para anunciar a salvação à humanidade inteira, "ou seja: para nos reconciliar a nós pecadores com Deus; para nos fazer conhecer o seu amor infinito; para ser o nosso modelo de santidade; para nos tornar participantes da natureza divina (2 Ped 1, 4)"; e para "anunciar as boas novas do Reino de Deus". Santo Atanásio, um famoso Padre e Doutor da Igreja, afirmou que Jesus, "o Filho de Deus, Se fez homem, para nos fazer Deus", ou seja, para nos tornarmos santos como Deus.


2.     Estrutura hierárquica da Igreja Católica e exercício da liderança.


A Igreja Católica tem uma estrutura hierarquizada, sendo o seu Chefe o Papa, escolhido pelo Colégio de Cardeais. A expressão "Santa Sé" significa o conjunto do Papa e dos dicastérios da Cúria Romana, que o ajudam no governo de toda a Igreja. A Igreja tem uma estrutura hierárquica de títulos que são, em ordem descendente:


2.1 Papa -  que é o Sumo Pontífice e chefe da Igreja Católica, o guardador da integridade e totalidade do depósito da fé, o Vigário de Cristo na Terra, o Bispo de Roma e o possuidor do Pastoreio de todos os cristãos, concedido por Jesus Cristo a São Pedro e, consequentemente, a todos os Papas. Esta autoridade papal (Jurisdição Universal) vem da fé de que ele é o sucessor direto do Apóstolo São Pedro. Na Igreja latina e em algumas das orientais, só o Papa pode designar os membros da Hierarquia da Igreja acima do nível de presbítero.


2.2 Cardeais - são os conselheiros e os colaboradores mais íntimos do Papa.  O Papa é eleito, de forma vitalícia, pelo Colégio dos Cardeais. Muitos dos cardeais servem na Cúria, que assiste o Papa na administração da Igreja. Todos os cardeais que não são residentes em Roma são bispos diocesanos.


2.3 Patriarcas - são normalmente títulos possuídos por alguns líderes das Igrejas Católicas Orientais. Estes patriarcas orientais, que ao todo são seis, são eleitos pelos seus respectivos Sínodos e depois reconhecidos pelo Papa. Mas alguns dos grandes prelados da Igreja Latina, como o Patriarca de Lisboa e o Patriarca de Veneza, receberam também o título de Patriarca, apesar de ser apenas honorífico e não lhes conferirem poderes adicionais.


2.4  Arcebispos e bispos - são bispos que, na maioria dos casos, estão à frente das arquidioceses. Se a sua arquidiocese for a sede de uma província eclesiástica, eles normalmente têm também poderes de supervisão e jurisdição limitada sobre as dioceses (chamadas sufragâneas) que fazem parte da respectiva província eclesiástica. Os Bispos (Diocesano, Titular e Emérito) são os sucessores diretos dos doze Apóstolos. Receberam o todo do sacramento da Ordem, o que lhe confere, na maioria dos casos, jurisdição completa sobre os fiéis da sua diocese.


2.5 Presbíteros ou Padres - são os colaboradores dos bispos e só têm um nível de jurisdição parcial sobre os fiéis. Alguns deles lideram as paróquias da sua diocese.


2.6 Diáconos - são os auxiliares dos presbíteros e bispos e possuem o primeiro grau do Sacramento da Ordem. São ordenados não para o sacerdócio, mas para o serviço da caridade, da proclamação da Palavra de Deus e da liturgia.


Todos os ministros  supra-mencionados fazem parte do clero. A Igreja acredita que os seus clérigos são "ícones de Cristo", logo todos eles são homens, porque os doze Apóstolos são todos homens e Jesus, na sua forma humana, também é homem.


Mas isto não quer dizer que o papel da mulher na Igreja seja menos importante, mas apenas diferente. Exceptuando em casos referentes aos diáconos e a padres ordenados pelas Igrejas orientais, todo o clero católico é celibatário. Os clérigos são importantes porque efectuam exclusivamente determinadas tarefas, como a celebração da Missa e dos sacramentos.


Existem ainda outras funções na vida da comunidade e nesse âmbito há a presença marcante das mulheres: Leitor, Ministro Extraordinário da Comunhão eucarística, Ministro da Palavra e Acólito. Estas funções tomados em conjunto não fazem parte do clero, pois são conferidas aos leigos, uma vez que, para entrar para o sacerdócio, é preciso ao católico receber o sacramento da Ordem. Desde o Concílio Vaticano II, um concílio pastoral e não dogmático, os leigos tornaram-se cada vez mais importantes no seio da vida eclesial e gozam de igualdade em relação ao clero, em termos de dignidade, mas não de funções, o grande desastre do catolismo.


Dentro da Igreja, existem um grupo de leigos ou de clérigos que decidiram tomar uma vida consagrada e normalmente agrupam-se em ordens religiosas, congregações religiosas ou em institutos seculares, existindo porém aqueles que vivem isoladamente ou até junto dos não-consagrados. Estes movimentos apostólicos têm a sua própria hierarquia e títulos específicos.

 

3.      O Sagrado Feminino no Catolicismo


Na Igreja Católica a presença do sagrado feminino nos remete á figura de Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus. Presença de destaque e atuante nos relatos evangélicos e que inspirou um número incontável de mulheres que como Maria se consagraram a Deus na vida religiosa e consagrada, em um número incontável de institutos, ordens e congregações religiosas ou de maneira particular.


A presença da mulher na Igreja é fundamental, embora não inserida no contexto hierárquico da Igreja. A grande maioria das comunidades católicas conta com a liderança feminina exercendo papel de destaque, assumindo a liderança de pastorais e organismos, tanto no âmbito da evangelização quanto na prática da caridade.


Pe. Carlos Alberto Chiquim

Presidente da ASSINTEC





PRESBITERIANISMO NO BRASIL


Em uma noite do ano de 1536, o jovem reformador francês João Calvino passava por Genebra. Recebe, então, apelo veemente de Guilherme Farel para que permanecesse naquela cidade suíça, juntando-se a ele, para, ali, levarem a efeito a Reforma. Depois de alguma relutância, Calvino aceitou. Naquela noite, tinha início capítulo marcante da História da Igreja Cristã.

As Igrejas Presbiterianas, no Brasil, são herdeiras desse notável movimento. A identidade reformada constitui um traço destas comunidades de cristãos. Para explicitar as linhas mais marcantes dessa expressão da fé cristã é indispensável reportar ao século XVI, à cidade de Genebra e à figura de Calvino.

Calvino reorganizou a Igreja em Genebra, criando um sistema representativo de governo, por meio do Consistório, que era formado pelos presbíteros (leigos que tinham o mesmo poder administrativo que os pastores) e, também, cuidou da administração da beneficência na cidade através dos diáconos. Essa foi uma mudança profunda, que punha fim ao sistema episcopal e apontava na direção a um sistema democrático de governo que, só depois de muitos anos, se consolidaria com as Revoluções Americana e Francesa.

O Reformador de Genebra apregoou, também, uma vida moral austera. Calvinismo como que se tornou sinônimo de austeridade, que significava simplicidade no viver, dedicação e honestidade no trabalho. Esta se tornou uma marca tão forte dos reformados, que Max Weber escreveu sobre o tema uma das mais célebres obras da Sociologia: "Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo". A ética calvinista produziu efeitos na sociedade durante período considerável.

Calvino, ainda, construiu um sistema educacional de primeira ordem. Ele atraiu mestres entre os melhores da Europa para as escolas de Genebra. Muitos estrangeiros foram à Academia para estudar teologia e voltaram às suas terras como pastores reformados. A Reforma e a sólida educação acadêmica, para ele, eram indissociáveis.

Por fim, considerado o sistema de compreensão da fé cristã, a reforma calvinista pode ser resumida nas seguintes afirmações: Sola Fide, somente pela fé; Sola Scriptura, por meio das Escrituras apenas;  Solus Christus, apenas por meio de Cristo; Sola Gratia, tão somente por meio da graça; Soli Deo Gloria, Gloria somente a Deus.

Um dos estudantes que passou por Genebra foi John Knox. Ligou-se a Calvino e estudou em sua Academia. De volta à Escócia (1559), com a ajuda de outros ministros, organizou a Igreja Reformada da Escócia. Foi o principal autor do Livro de Disciplina, que traçou uma forma presbiteriana de governo para a Igreja. O nome "Igreja Presbiteriana" é usado pelas igrejas que se originaram desta Igreja da Escócia e o nome "Reformada" é próprio das igrejas que nasceram no continente – Suíça, Holanda, França, etc.

Quase um século depois de Knox iniciar seu trabalho na Inglaterra é que os Puritanos, em grande parte presbiterianos, alcançaram maioria no Parlamento, e, logo, o poder para tornar a Igreja da Inglaterra como a desejavam. É convocada a Assembleia de Westminster (1643-1649), composta pelos principais teólogos puritanos. Até hoje a Igreja Presbiteriana do Brasil adota a Confissão de Fé produzida por aquela Assembleia, que também instituiu o sistema presbiteriano para a Igreja da Inglaterra, o qual foi ratificado pelo Parlamento. Devido à turbulência política, o sistema permaneceu apenas na lei, de fato não se efetivou a Igreja Nacional Presbiteriana.

Em 1660, restaura-se a monarquia, com Carlos II, filho do rei que havia sido levado à morte, e a Igreja volta à forma episcopal que existia antes da vitória dos Puritanos. Há uma grande perseguição aos dissidentes. É desse tempo o clássico meu "O Peregrino" de John Bunyan, que o escreveu na prisão de Bedford.

Esse momento histórico é fundamental, pelo menos, por dois motivos: Primeiro, porque a Confissão de Fé de Westminster se tornou referencial doutrinário para o presbiterianismo de origem anglo-saxônica; segundo, porque a perseguição infligida aos Puritanos após sua derrota levou inúmeras famílias a atravessar o Atlântico, propiciando o surgimento de muitas igrejas na América do Norte. Uma das características das igrejas dos Estados Unidos, que não se pode deixar de mencionar neste rápido pinçar de elementos históricos é o fato de serem igrejas independentes do Estado. A primeira emenda à Constituição dos Estados Unidos (1791) determinava que não houvesse religião reconhecida pelo Estado. A laicidade do Estado constituiu bandeira do presbiterianismo que aportou no Brasil.

O presbiterianismo herdado dos Estados Unidos tem feições bem definidas. Ele é datado e determinado por uma conjuntura nacional peculiar. A ida para o oeste era marcada pelo pioneirismo que trazia consigo os vícios, a prostituição, etc. Beecher, líder protestante, afirmou (1832): "plantar o cristianismo no oeste (americano) é uma tarefa tão grande quanto seria plantá-lo no império romano, porém com maior permanência e poder". A abstinência quanto a bebidas alcoólicas e o combate aos vícios, como o jogo, foram pontos centrais que caracterizaram o protestantismo americano do século passado.

Uma segunda tônica a destacar foram os movimentos de reavivamento, que atingiram quase a totalidade das igrejas, por todos os rincões dos Estados Unidos. Centenas de pessoas convertidas se filiaram às igrejas. Por fim, deve-se mencionar o Movimento das Missões Estrangeiras que, nascido na Inglaterra, encontrou correspondência de sentimento no protestantismo da América do Norte. Fruto desses Movimentos, em 12 de agosto de 1859, aportou no Rio de Janeiro o jovem pastor Ashbel Green Simonton, movido por um profundo senso de vocação. Foi o pioneiro do presbiterianismo. Depois de Simonton, vários outros missionários chegaram ao Brasil, pregando a fé cristã, na visão que dela têm os presbiterianos.

Alguém que não poderia deixar de ser mencionado neste relato é o Rev. José Manoel da Conceição, primeiro pastor presbiteriano brasileiro, ex-padre católico romano, homem de cultura notável. Foi um missionário itinerante, marcou o roteiro por onde os missionários americanos viriam depois organizando as igrejas. Ele representou, quem sabe, o primeiro sinal de um protestantismo autóctone, enfronhado na cultura brasileira. Foi muito incompreendido. Estabeleceu uma maneira de evangelização diferente daquela adotada pelos missionários americanos. Estes entendiam que uma igreja deveria gerar outra e assim por diante. Conceição inaugura um modelo itinerante, sem preocupar-se com estruturação de igrejas. Saía a pé pelas estradas e vilarejos do interior de São Paulo a pregar. Da semente assim plantada, mais tarde, os missionários colhiam os frutos. Eram famílias e famílias que estudavam com esmero a Bíblia e que, quando chegava a estrutura eclesial, já se encontravam prontas para ser recebidas por profissão de fé e batismo, formas de ingresso na Igreja. O modelo de Conceição estava consagrado.

Desta maneira, a Reforma de Genebra, ocorrida no século XVI, chegou ao Brasil, ao final do século XIX. O Cowboy norte-americano e o sertanejo brasileiro encontram-se por meio da comunicação da fé. Uma herança foi transmitida, não só aquela da maneira americana de viver o Evangelho, não só o austero presbiterianismo do puritano inglês, não só a teologia do Reformador genebrino, senão que a própria fé cristã. Porém, nada melhor que a consciência dos condicionamentos históricos e da transitoriedade de cada momento de modo que nada seja reduzido em frios dogmas.

O presbiterianismo amoldado à cultura brasileira é tão plural quanto à própria sociedade na qual se inseriu. Há setores muito conservadores ou ortodoxos, há outros denominados "liberais", há Igrejas abertas ao ecumenismo e outras bem refratárias ao diálogo inter-religioso.  O presbiterianismo, no Brasil, não é herdeiro somente de um momento que possa ser cristalizado em um modelo. A História do protestantismo, como também de seu ramo chamado presbiterianismo, é dinâmica e dialética. Nas suas contradições é possível encontrar provisórias sínteses de uma experiência multifacetada da fé cristã.

Marcos Alves da Silva

Pastor Presbiteriano





SOCIEDADE INTENACIONAL DA CONSCIÊNCIA DE KRISHNA -  Curitiba

Acharya-Fundador Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada


Esclarecimentos acerca da religião Hindu Vaishnava (Hare Krishna)

seguindo recentes resoluções intelectuais da ISKCON


Considerações iniciais importantes:

Devido à grande demanda por esclarecimentos provenientes de meios acadêmicos e governamentais, entre outros, a ISKCON, ou movimento Hare Krishna, vê-se, já há algum tempo, em momento de necessidade de uma definição pública de sua posição no cenário cultural/religioso indiano que seja ao mesmo tempo idônea e satisfatória a tais meios, bem como também saudável à integridade de seu importante papel na história da Índia. Para tal empreendimento, nos munimos de numerosas e reconhecidas publicações com o intuito de esclarecer tal posição. Encontram-se amplas comprovações acadêmicas a respeito da generalidade do termo “hinduísmo”, e a comprovação de que de fato tal termo não representa uma religião apenas, mas um grupo de, sobretudo, quatro religiões específicas, por um lado diferentes entre si, contudo, concordantes em determinados e determinantes pontos que as unem sob tal termo, e também as separa de outras conhecidas tradições indianas, como, por exemplo, o budismo, o jainismo e o sikhismo, cujas características não se alinham com tais pontos, sendo o principal deles o fato de estas últimas não aceitarem a autoridade dos Vedas, ou escrituras védicas.

Partindo dessa compreensão, a qual estabelece o termo “hinduísmo” como apenas um termo técnico geral referente às quatro correntes que o compõem, vamos então a elas.

As quatro grandes religiões hindus

As quatro grandes linhas filosófico/religiosas que formam o hinduísmo tradicional são: Vaishnavismo (o qual representamos), Shaivismo, ou Shivaísmo, Smartismo e Shaktismo. Como citado anteriormente, existem certas características que as separam e outras que as unem como autênticas religiões hindus.

Os principais aspectos de convergência são: aceitação da autoridade dos Vedas, aceitação do guru, ou mestre espiritual, compreensão da lei do karma e da reencarnação.

Devido às diferenças entre elas e ao fato de os termos “hindu” ou “hinduísmo” não derivarem do patrimônio literário indiano ou védico, mas sim de fontes alheias ao povo e à tradição indianos, – de fato tais termos não pertencem à língua sânscrita –considera-se mais adequado referir-se diretamente aos praticantes das grandes tradições hindus por seu nome particular, ou seja, “hindus vaishnavas”, “hindus shaivas”, “hindus smartas” e “hindus shaktis”, ou simplesmente “vaishnavas”, “shaivas”, etc, e nunca unicamente “hindus”. Isso também explica um eventual desgosto por parte de alguns representantes dessas religiões em serem chamados apenas de hindus.

Entre as quatro, a única exclusivamente monoteísta é o vaishnavismo, o qual invariavelmente considera Krishna, ou Vishnu, como o Ser Supremo e causa de todas as causas, apesar de reconhecer o Deus de outras tradições monoteístas fidedignas como o mesmo Deus, manifesto, por Seu desejo transcendental, com outros nomes e outras características, concernentes aos aspectos particulares de tais localidades e traços culturais. Isso só vem a confirmar a infinita misericórdia de Deus.


ISKCON - Curitiba




CENTRO DE ESTUDOS BUDISTAS BODISATVA


SIDARTA GAUTAMA - BUDA - O Fundador do Budismo


A história do surgimento da Índia , berço da filosofia budista, remonta aos 3000 a.C., com o desenvolvimento das civilizações Harrapa e Mohenjo Daro, às margens do rio Indo.

A invasão desta região, cerca de mil anos depois, por povos arianos do Cáucaso determinou profundas modificações, provocando o aparecimento de diversos”reinos” independentes, com dialetos e etnias próprios.

É num desses reinos, o reino dos Shakya, em Kapilavastu, localizado no centro-norte da Índia, atual Nepal, que nasceu o príncipe Sidarta Gautama Sakyamuni, há aproximadamente 565 a.C.

Conta a tradição, que num dado momento, ele tomou conhecimento de que as pessoas envelheciam, tinham doenças horríveis e caminhavam inexoravelmente para a morte. Isto deixou-o abalado profundamente. Então deparou-se com um peregrino, que apesar de quase nu, e sem nada possuir, além de uma tigela para mendigar comida e um bastão, aquele homem parecia estar tranquilo, seu rosto irradiava paz, dignidade e contentamento. Percebeu que tudo é impermanente (velhice, doença e morte) e a única maneira de extinguir aquela angústia seria o abandono físico e mental daquela vida de confortos e acomodação material.    Abandonando a casa paterna, sai em busca de uma resposta para tanto sofrimento.

Após anos de experiência, propõe-se a ficar debaixo de uma figueira meditando até encontrar uma resposta. Passados 49 dias de profunda e silenciosa meditação e ultrapassando todos os níveis de consciência, finalmente chegou à suprema iluminação, o Nirvana.

Nesse momento, transformou-se no Buda, que significa "o supremo iluminado, totalmente consciente” . Contava ele com 35 anos de idade. A partir deste momento, e até o dia de sua morte aos 80 anos, ele viajou por todo o noroeste da Índia, partilhando com um número crescente de discípulos as suas descobertas.

O Budismo baseia-se no conceito de que tudo é ilusório, transitório e portanto impermanente.

Poucas religiões são tão baseadas na racionalidade quanto o budismo. O próprio Buda não é considerado um Deus, mas sim um homem extremamente sábio, que conseguiu subjugar a tristeza e os tormentos do ser humano e cuja filosofia de vida deve ser seguida a fim de se alcançar a felicidade plena.

A Iluminação encontra-se no "meio do caminho", não com indulgências luxuosas nem com auto-mortificação. Além disso, ele descobriu o que ficou conhecido como as ‘Quatro Verdades Nobres’ – (1) viver é sofrer (Dukha), (2) o sofrimento é causado pelo desejo (Tanha, ou “apego”), (3) uma pessoa pode eliminar sofrimento ao eliminar todos os apegos e desejos, e (4) isso é alcançado ao seguir-se o Caminho Óctuplo. Esse caminho consiste de obter o entendimento correto, o pensamento correto, a palavra correta, a ação correta, o modo correto de existência, o esforço correto (direcionar as energias corretamente), a atenção correta (meditação) e a concentração correta (foco).

Os ensinamentos de Buda foram colecionados no Tripitaka ou “três cestos de flores”.

Nos séculos posteriores, o Budismo espalhou-se pela Ásia, assumindo traços próprios em reação a padrões culturais estabelecidos em cada região.

Hoje o Budismo está presente em quase todos os países da Terra.


LIDERES NO BUDISMO

DALAI LAMA - TENZIN GYATSO


Jetsun Jamphel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso nasceu em 1935,  numa pequena vila no Tibet. Filho de camponeses, aos 2 anos de idade foi reconhecido como a reencarnação e sucessor do 13º Dalai Lama; em 1939 foi levado junto à família para morar na capital do Tibet, Lhasa, e, em 1940, foi formalmente instaurado como Chefe de Estado do Tibet.

Os chefes tibetanos não são nomeados ou eleitos – eles nascem para a posição. Para os tibetanos, o Dalai Lama é mais do que um Chefe de Estado; eles são guias espirituais. Quando um Dalai Lama morre ele deixa sinais indicando aonde será seu renascimento.

Aos 6 anos de idade começou sua educação budista, que só acabaria 18 anos depois, quando recebeu o título de Doutor em Filosofia Budista após passar um dia com 80 acadêmicos de diferentes universidades discutindo lógica, filosofia budista e disciplina monástica e metafísica.

Em 1950 se deu no Tibet o começo da invasão comunista chinesa, forçando o jovem Dalai Lama a assumir sua autoridade política com apenas 15 anos. Após vários incidentes violentos,  o governo tibetano não viu outra alternativa a não ser pedir para que Dalai Lama fugisse do país.

Na noite de 17 de março de 1959, Gyatso fugiu do país em direção à Índia, que o recebeu e ofereceu asilo político. Até hoje o líder tibetano governa seu país no exílio, em uma base criada em Dharamsala, no noroeste da Índia. Com ele, aproximadamente 80 mil refugiados tibetanos fugiram e se espalharam pelo mundo. Com o auxílio da ONU foram criadas resoluções para que a China respeitasse o povo tibetano, além da construção de escolas, universidade e mosteiros para preservar a cultura do Tibet.

Em 20 de junho quebrou seu silêncio e convocou uma entrevista coletiva, afirmando que não iria parar de governar seu país; ao contrário, acompanhou de longe a criação de novos departamentos no governo, como os de Educação, Informação, Negócios Religiosos e Negócios Econômicos. Em 1963, Dalai Lama promulgou uma nova constituição para o país, baseada nos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos ensinamentos Budistas.

Pela primeira vez, em 1967, Gyatso sai da Índia, começando uma peregrinação que já passou por mais de 50 países, promovendo a paz e lutando pelos direitos humanos, sempre defendendo o princípio da não-violência (mesmo princípio usado por Mahatma Ghandi); em sua jornada conheceu presidentes e líderes como os papas Paulo VI e João Paulo II; líderes da Igreja Anglicana em Londres, como o Arcebispo de Canterbury, e diversos outros líderes espirituais, na tentativa de criar uma inter-fé – um diálogo em que todas as religiões possam co-existir, sem que uma negue a outra. No Brasil já esteve quatro vezes.


“Eu sempre acreditei que é muito melhor termos uma variedade de religiões, uma variedade de filosofias, do que uma simples religião ou filosofia. Isto é necessário por causa das disposições mentais diferentes de cada ser humano. Cada religião possui certas idéias ou técnicas características, e aprender sobre elas pode somente enriquecer a fé de alguém.”

O atual Dalai Lama recebeu diversos prêmios de Paz e homenagens por seus escritos em Filosofia Budista e por promover o diálogo em diversos países em questões de conflitos (civis e internacionais) e questões ambientais. O maior deles foi em 1989, quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua incessante luta – sempre pacífica – em resolver os conflitos no Tibet.

Tenzin Gyatso é considerado como a maior e mais lúcida voz de uma geração na luta pela paz, pelo respeito mútuo e pela felicidade alcançada através do altruísmo, da compaixão e do amor. Uma voz que parece distante, mas que é tão necessária ser ouvida nos dias de hoje.


http://www.livrosbiografiasefrases.com.br/biografias/biografia-de-tenzi-gyatso-dalai-lama/

CHAGDUD TULKU RINPOCHE

Mestre tibetano que difundiu amplamente o budismo na América. Nascido em 12 de agosto de 1930 no Tibete, fugiu do país após a invasão chinesa em 1959. Viveu na Índia e Nepal até 1979, quando se mudou para os EUA.

Em 1994, mudou-se para o Brasil, onde também fundou diversos centros budistas. Seu corpo faleceu em 17 de novembro de 2002, em Três Coroas (RS), demonstrando surpreendentes sinais de realização meditativa.

http://darma.info/budismo/escolas-budistas


LAMA PADMA SAMTEN

O mestre budista Lama Padma Samten tem auxiliado inúmeras pessoas em suas vidas e relações cotidianas, com ensinamentos que dialogam com as mais diversas áreas do conhecimento.

Físico, com bacharelado e mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alfredo Aveline foi professor de física de 1969 a 1994. Neste período, dedicou-se especialmente ao exame da física quântica, teoria na qual encontrou afinidade com o pensamento budista. No início dos anos 80, intensificou seu interesse pelo budismo e em 1986 fundou o Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB). Em 1993, foi aceito como discípulo por Chagdud Tulku Rinpoche e em 1996 foi ordenado lama, título que significa líder, sacerdote e professor.


Em Viamão (RS), onde reside, está situada a sede do Instituto Caminho do Meio – Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), entidade que dirige. Seu trabalho está voltado à orientação das atividades de seus alunos, através do estudo, da prática de meditação, de retiros e, sobretudo, através do auxílio na compreensão da espiritualidade e da cultura de paz como caminho para que desenvolvam boas relações no ambiente onde vivem.

Além do contato muito próximo com a comunidade budista, nos diversos estados onde o CEBB está estabelecido, como Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o Lama Padma Samten tem orientado profissionais e acadêmicos de diferentes áreas, que buscam aprofundar e qualificar suas teses, estudos e atuações profissionais, a partir de uma interface com a espiritualidade, de modo geral, e com o budismo, de modo específico. Ciência, psicologia, saúde, sociologia e educação são algumas das principais áreas em que este diálogo acontece.

Sua ação é também direcionada para vários setores organizacionais, sendo freqüentemente convidado a participar como palestrante, conferencista e consultor em ambientes empresariais, órgãos públicos, universidades e outros segmentos.

Os livros publicados pelo Lama Samten – A Jóia dos DesejosMeditando a VidaO Lama e o EconomistaRelações & ConflitosMandala do Lótus e A Roda da Vida – são referências de estudo para alunos e representam uma oportunidade aos leitores, conectados ou não ao budismo, de acesso a este conhecimento de vinte e seis séculos. Nestes textos encontram-se apresentações dos ensinamentos do Buda e orientações práticas para gerarmos maior estabilidade frente às circunstâncias e dificuldades de nossas vidas.

Sua experiência permite uma abordagem em que o budismo manifesta-se como auxílio precioso nas circunstâncias desafiadoras do presente, apresentado de uma forma bem prática. Quando profere palestras a empresários e executivos desejosos de uma mensagem de paz, o Lama mostra como os ensinamentos de Buda podem ser aplicados em atividades econômicas e no mercado de trabalho. No entanto, suas explanações parecem fundamentadas mais no bom senso do que propriamente na religião.

http://www.cebb.org.br/lama-padma-samten/

MULHERES BUDISTAS

Um fato luminoso ao budismo, sobretudo o ocidental, é o protagonismo das mulheres seja como monjas, mestras ou alunas. A atuação de algumas delas, como a brasileira Monja Coen Sensei, a norte-americana Pema Chödrön e a inglesa Jetsunma Tenzin Palmo, que têm alcançado um notável público de leitores budistas e de outras religiões, seja pelas mensagens de amor e compaixão divulgadas por meio de vídeos no YouTube ou também pelos inúmeros livros publicados, reforça a importância do olhar feminino dentro do budismo como forma de estimular o empoderamento da mulher.

Muitas hoje são professoras reconhecidas não apenas para budistas, mas também para pessoas de várias religiões.

Monja Coen Sensei aparece frequentemente na TV falando de budismo, de amor, de pessoas, de compaixão. Suas mensagens de amor e compaixão à filosofia budista de forma natural e saborosa. Monja Coen sempre participa de reuniões e diálogos inter-religiosos para promover a cultura de paz. Ela é autora de livros como Viva zen – Reflexões sobre o instante e o caminho” “Sempre Zen – Aprender, ensinar, ser. Ela publica uma coluna no Jornal “O Globo”.


Há outras monjas e professoras igualmente importantes que têm ampliado o protagonismo feminino dentro do budismo. Mestras do passado e do presente, como a tia de Sidarta, Mahaprajapati, que se tornou a primeira monja, e mestras na ativa, como Pema, Jetsunma e Coen, ajudam a construir uma cultura de paz que não mais compactua e tolera a discriminação de gênero.

Homens e mulheres têm dentro de si a natureza de Buda. Como ressalta a Monja Coen em uma de suas colunas, “o que se reverencia no budismo não é o gênero, masculino ou feminino, mas a mente iluminada, anterior às discriminações”.

Diz a lenda que o próprio Sidarta Gautama, antes de se tornar o Buda histórico, durante o seu caminho à iluminação, ficou 80 dias sem comer e beber nada. Sidarta, então, pele e osso, foi socorrido por uma menina camponesa que derramou leite em sua boca. Os relatos dizem que isso foi importante para a caminhada de Sidarta no sentido de se tornar o Buda, o iluminado.

O certo é que, se as muitas mulheres budistas do passado que transmitiram a sabedoria e compaixão do Buda não foram devidamente reconhecidas nos cânones e em suas estruturas comandadas por homens (quantas não teriam sido esquecidas nos textos escritos por eles?), a próxima geração de professoras e monjas budistas vai empoderar espiritualmente cada vez mais mulheres dando a elas autonomia, independência e oportunidades de liderança dentro do budismo.

Buda deu ferramentas para compreendermos que boa parte de nossas impurezas mentais, como a ideia de um “Eu engessado”, é a base para toda fonte de egoísmos e discriminações como o sexismo e machismo.


Marinei Gabardo

Centro de Estudos Budistas Bodisatva




TRADIÇÃO JUDAICA


No decorrer de séculos, a religião judaica tem fundamentado seus preceitos, regras e leis nos escritos sagrados da Torah (os cinco livros que constituem o Pentateuco), onde encontramos as origens que determinam a liderança de suas organizações religiosas. Assim, ensina a Torah que logo no início da formação do povo de Israel, ainda quando vagava no deserto, entre a saída da escravidão do Egito à conquista da terra de Canaã, Moshe (Moisés), seguindo o conselho de seu sogro Yitro (Jetro), ordenou a constituição do primeiro sistema jurídico do povo de Israel ao escolher 70 Shofetim (juízes), homens de reconhecida sabedoria, tementes à D´us, respeitadores dos escritos sagrados e portadores de experiência de vida para julgar o povo e suas tribos com justiça. A primeira Grande Corte (Sanhedrin - Sinédrio) foi assim constituída, portanto, pelos 70 anciãos sob a liderança de Moshe (Moiséis), que depois seu sucessor Yehosua (Josué) ocupará seu lugar.


Esta estrutura de liderança sofreu um grande prejuízo com a destruição do 2º Templo de Jerusalém no início da década de 70 da Era Comum, quando o Sanhedrin (Sinédrio) foi obrigado a transferir suas atividades para a Babilônia e por questões de segurança não mais se reuniria na cidade de Jerusalém. Na Babilônia surge o uso do termo na língua aramaica Rab para designar um dos integrantes do Sanhedrin. Entretanto, a Grande Corte do povo judeu não suportou a perseguição do Imperador Romano Teodósio II, e no século IV desta Era é dissolvido este tipo de organização jurídica que liderou por séculos os caminhos do povo e da religião judaica.

No contexto da diáspora, após a destruição do 2º Templo de Jerusalém até os dias de hoje, o povo judeu começou a utilizar o termo Rab para identificar suas lideranças religiosas, que na língua portuguesa deu origem ao termo rabino. Os rabinos são pessoas que possuem grande conhecimento da Torah adquirido nas Yeshivot (seminários para a formação de rabinos) segundo as correntes teológicas do judaísmo. Eles são reconhecidos pelo povo judeu e pelo Estado de Israel como seus representantes para realizar casamentos, divórcios, sepultamentos, conversões; orientar suas comunidades quanto às leis dietéticas judaicas (kashrut); organizar e participar das festas religiosas; estimular a visita aos enfermos e enlutados; conduzir os diversos serviços religiosos prescritos na Torah; incentivar iniciativas educacionais e assistenciais; prezar pela vivência de culto e fé dos integrantes de sua comunidade, dentre outras inúmeras atividades.


Quanto à participação da mulher judia na estrutura hierárquica da organização religiosa, sua presença é observada em vários campos da liturgia, desde responsabilidades pela condução das rezas proferidas em ambiente doméstico, cumprimento de mitzvot (mandamentos), até a divisão de papéis entre homens e mulheres no culto sinagogal. Entretanto, é preciso respeitar a existência de diferentes posicionamentos originários das diversas correntes do pensamento religioso judaico, haja vista que algumas destas entendem que não devam existir posições hierárquicas ao defender a participação igualitária entre homens e mulheres em todos os níveis, inclusive reconhecendo as atividades de mulheres como rabinas. Porém, este tipo de compreensão é minoritário no círculo judaico tradicional e ortodoxo. Sendo assim, não existe unanimidade entre as correntes sobre esta questão, muito por conta das interpretações das fontes bíblicas e dos contextos sócio-históricas onde tais correntes se consolidaram.  Assim, se na antiguidade bíblica a sociedade do oriente médio era fortemente marcada por uma estrutura patriarcal, há registros de mulheres juízas (cf. Débora) ou profetizas (Miriam, Ruth, Hulda) que ocuparam espaços importantes de liderança à frente do povo de Israel, hoje em dia elas lutam contra a tradição que determinou ao longo dos séculos que elas tivessem o lar como espaço privilegiado de culto, resultando até hoje na supremacia da liderança masculina na condução dos rituais religiosos sinagogais.


Rabino Pablo Berman

Centro Israelita do Paraná